quarta-feira, 12 de outubro de 2005

As eleições autárquicas (breve revisão)



São diversas, as conclusões a retirar das eleições autárquicas, no passado Domingo. E podem ser analisadas sobre diversas perspectivas.

O PAÍS Escreve José Manuel Fernandes, no seu editorial do Público de ontem, dia 10, que "o Governo viu como o país já não está rendido ao PS." Parece-me, acima de tudo, uma análise muito redutora. Primeiro, porque o país nunca esteve rendido ao PS. Ao dar a maioria absoluta a José Sócrates, os portugueses quiseram, essencialmente, castigar Santana Lopes, e não premiar o actual primeiro-ministro. Segundo porque só quem não conhece as realidades dos meios mais pequenos é que pode afirmar semelhante coisa. É difícil, em Lisboa ou no Porto, avaliar toda a obra de um autarca (pela positiva ou pela negativa). Nos meios pequenos, no entanto, as pessoas não olham tanto a cores partidárias, preferindo optar pela análise ao trabalho efectuado ou ao potencial que determinado candidato tem para poder executar. E assim se percebem algumas viragens camarárias, mormente com vantagem para o PSD e para a CDU.

LISBOA Em Lisboa venceu, claramente, a imagem séria e descomprometida de Carmona Rodrigues em desfavor da arrogância de Manuel Maria Carrilho. Ficou, assim, provado que o estilo de pseudo sobranceria intelectual não rende em eleições. Aliás, só quem se tivesse esquecido da péssima prestação do ex-ministro no Ministério da Cultura é que lhe daria nova oportunidade para asnear. Mesmo após a derrota, Carrilho manteve a sua postura arrogante. No seu discurso, lembrou que foi Sócrates quem o convidou, que Jorge Coelho foi participante activo na campanha, que o PS de Lisboa ajudou a estruturar a campanha. Lembrou que foi alvo de calúnias e difamações. Enfim, caiu, mas não quis cair sozinho.

PORTO Afinal, sempre vale a pena passar a imagem de político sério e competente, nada dado a demagogias populistas. Afinal, sempre é positivo distrinçar a política do futebol. Afinal, nem campanhas sub-reptícias (às vezes mais, outras menos) de Pintos da Costa servem para derrubar uma obra que está à vista, pesem embora todas as dificuldades orçamentais com que se deparou Rui Rio, depois de descoberto o passivo deixado pelo consulado socialista na autarquia. Apesar de ter um adversário cuja capacidade e competência são sobejamente conhecidas, Rui Rio passou o teste e saiu, inclusive, reforçado. Fica Rui Sá a perder, que deixará de ser necessário para a gestão camarária.

SINTRA Nem com o desesperado apelo ao voto no filho, Mário Soares conseguiu que este saísse vencedor. Aliás, João Soares continua a acumular derrotas, algo em que parece ser perito. Neste concelho, no entanto, ressalva-se a qualidade da campanha dos candidatos, que primaram pela boa educação e postura, ao contrário de outros concelhos. Fernando Seara sai, merecidamente, vencedor. De salientar, no entanto, o discurso de derrota de João Soares. Ele e Assis, no Porto, foram os únicos a assumir todas as culpas pelo resultado eleitoral e a disponibilizarem-se para serem vereadores, comprometendo-se a uma oposição séria e descomprometida.

FARO Alguns consideraram o regresso do PS à Câmara de Faro como a surpresa da noite. No entanto, sendo o candidato socialista José Apolinário, Marques Mendes devia ter apostado num nome mais forte que o de José Vitorino. Ainda assim, o PSD manteve a maioria das câmaras algarvias e, portanto, a direcção da Associação de Municípios do Algarve.

BRAGA Apesar da esperada vitória de Ricardo Rio, líder da coligação, Mesquita Machado mantém-se à frente dos destinos da autarquia, ainda com maioria absoluta, embora reduzida em relação ao anterior mandato. Embora se fale de interesses instalados na cidade há inúmeros anos, a verdade é que Mesquita é o edil desde o 25 de Abril e, portanto, um dos responsáveis, lado a lado com a implementação e desenvolvimento da Universidade do Minho, pelo exponencial crescimento da cidade (que é, já, a terceira do país). Começa a perceber-se, já, algum desgaste (a vitória do PSD, daqui a quatro anos, se o candidato for, novamente, Ricardo Rio, é quase certa), mas este resultado, de entre muitos outros, foi o que menos me surpreendeu.

EM PORTUGAL, A CORRUPÇÃO VALE A PENA Dos 4 concelhos cujos principais candidatos eram arguidos em processos (por diferentes razões), apenas Amarante soube votar em consciência, ao não permitir a Avelino Ferreira Torres que viesse a fazer na Câmara amarantina aquilo que fez no Marco de Canaveses. No seu estilo boçal habitual, Avelino disparou em todas as direcções, tendo como principal alvo a comunicação social. Mas Isaltino Morais, Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro sairam vitoriosos em Oeiras, Felgueiras e Gondomar, respectivamente. Ainda não percebi se a população gosta de ser do contra, se é masoquista ou se, como já ouvi muitas vezes, acredita na velha máxima de "nem que roube, desde que roube para todos os de cá...". Qualquer das três hipóteses é absurda e julgo que os próximos quatro anos vão provar isso mesmo. À excepção de Oeiras, onde a votação foi muito mais renhida, saem claramente denegridos os aparelhos partidários que não souberam, na devida altura, criar e publicitar verdadeiras alternativas.

Mais se podia dizer, sobre outras autarquias, como a reviravolta em Aveiro, a limpeza geral na Madeira, etc., pecando por ser moroso. Ressalvem-se, portanto as subidas do PSD e da CDU e as quedas do PS e do CDS. Fica por fazer a análise ao Bloco de Esquerda, que aparece com um discurso de vitória quando, na verdade, não conseguiu os vereadores que se tinha comprometido conseguir. A hora, agora, a nível partidário, é a de começar a pensar nas presidenciais.



Retirado daqui (Ministério da Justiça)

2 comentários:

Sílvio Mendes disse...

porque nunca é tarde.
responderei em breve.

isabel mendes ferreira disse...

Boa noite Rui. Aqui. porque não consigo entrar na Tela....Já é a segunda vez que fico dias sem entrar lá....mas....prontos...vim até aqui. bjo.